Em julho, todos os índices de expectativas da indústria subiram. É o que mostra a mais recente Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na terça-feira (18).
Há maior otimismo dos empresários industriais com relação à demanda, à compra de matérias-primas, ao número de empregados e à quantidade de bens exportados, para os próximos seis meses. Já o indicador que mede a intenção de investimento cresceu 0,1 ponto, para 54,1. Ele está acima da média histórica para o mês.
Entretanto, o desempenho da indústria piorou na passagem de maio para junho de 2023. A Sondagem Industrial aponta que houve queda na produção e no emprego no setor. Os estoques também ficaram acima do planejado pelas empresas e a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) se manteve estável.
Paula Verlangeiro, analista de Políticas e Indústria da CNI, comenta os resultados do levantamento. “Em junho de 2023, a gente observou uma piora no desempenho da indústria. Isso veio por meio dos indicadores de produção e de emprego industrial. Os dois apresentaram queda. Em maio, teve um crescimento da produção, mas isso foi revertido em junho. E, para o emprego industrial, há nove meses esse indicador vem em tendência de queda. Em junho ele teve uma leve melhora, mas continua um patamar que sinaliza queda do emprego.”
Resultados
Segundo a pesquisa, o índice que mede a produção da indústria caiu 5,3 pontos, de 51,6 para 46,3. Por estar abaixo da linha divisória dos 50 pontos, o indicador mostra tendência de queda na produção. Já o índice de evolução do número de empregados passou de 48,4, em maio, para 48,6, em junho. Apesar da leve alta de 0,2 ponto, o indicador continua abaixo da linha de divisão — o que aponta a manutenção do ciclo de queda.
Outro importante indicador para entender o desempenho da indústria, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) permaneceu em 69%. A UCI mostra qual o nível de atividade produtiva no momento, em relação ao seu potencial máximo de produção. Em junho de 2021, a UCI estava em 71%. No ano passado, em 72%. Ou seja, esse é o patamar mais baixo para o mês nos últimos três anos.
Os estoques mantiveram-se no mesmo patamar: 51,3 pontos. Por estar acima da linha divisória dos 50 pontos, o resultado mostra que o armazenamento cresceu, o que é reflexo do consumo menor.
Principais problemas
A Sondagem Industrial também elencou os principais problemas enfrentados pela indústria no segundo trimestre de 2023. A demanda interna insuficiente foi apontada como o maior desafio do setor entre maio e junho, por 37% dos empresários.
Em segundo lugar, escolheram a elevada carga tributária. Ao longo da série histórica, esse problema normalmente se encontra nas primeiras posições do ranking. Os juros elevados fecham a lista dos três principais problemas para os empresários. Paula Verlangeiro afirma que a indústria está estagnada em 2023 — o que se reflete no ranking das principais dificuldades.
“O primeiro lugar ficou para a demanda interna insuficiente, o que mostra a baixa procura por bens industriais. Isso está muito ligado ao desaquecimento da economia, como um todo. As taxas de juros elevadas também registraram aumento e foi o maior aumento de toda a série, desde 2015. Esse problema está sendo sentido demais pelos empresários. E essa questão afeta uma série de decisões importantíssimas para o empresário, como de investir, comprar maquinário”, explica.
Apesar disso, há boas notícias, de acordo com o levantamento. O indicador que mede o quão satisfeitos os industriais estão com o lucro operacional de suas companhias saltou 0,6%. Ainda sim, permanece abaixo da linha divisória. Ou seja, há mais insatisfação do que satisfação.
Quando o assunto é o contentamento com a situação financeira da empresa, houve aumento de 1,1 ponto no indicador respectivo. A alta foi suficiente para o índice ultrapassar os 50 pontos, o que aponta para satisfação com a situação financeira no período.
Apesar da taxa de juros básica estar em 13,75%, o acesso ao crédito melhorou na visão dos empresários da indústria. No entanto, a alta de 2,8% não foi o bastante para mudar a dificuldade em obter crédito, de modo geral — dizem os entrevistados.
Já o preço das matérias-primas recuou 6,4 pontos, ficando abaixo da linha dos 50 pontos, o que significa que um dos grandes gargalos enfrentados pelo setor nos últimos meses deixou de ser crítico, aponta o estudo.
Fonte: Brasil61